6 de abril de 2011

A caixa sensacionalista de Pandora

Por Daniele de Sá

Todo dia é sempre igual. Por voltas das duas horas da tarde, justamente na hora do almoço, a caixa de Pandora é reaberta, liberando de uma só vez (e em doses nada homeopáticas) todas as mazelas do mundo – engolidas a seco pelo telespectador.
           
É o palco aberto para a apresentação do grotesco e de superexposições da violência em que personagens reais são transformados em protagonistas das tragédias do cotidiano.
           
Do fato mais simples ao mais complexo, nada escapa às “lentes da verdade” e ao “doa a quem doer” dos programas sensacionalistas que exploram conteúdos como assassinatos, estupros, assaltos e roubos – elevados à máxima potência pelo grau mais radical da mercantilização da informação: o sensacionalismo.

É inquestionável o fascínio voyeurista (entendido por muitos como curiosidade mórbida) provocado por esse segmento da imprensa habituado a extrair das emoções à flor da pele a química perfeita que aumentará a audiência a níveis quase estratosféricos.

A famigerada imprensa marrom, com a mesma sede de serial killers, não se cansa de fazer suas vítimas, deixando como pistas alguns rastros de sangue pelo caminho, disfarçando-se de jornalismo responsável, pois é disso que “o povo gosta; é isso que o povo quer”.

            Eugênio Bucci, em seu livro “Sobre ética e imprensa” (Companhia das Letras, 2000), é categórico ao afirmar que os programas sensacionalistas têm como principal matéria-prima os dramas de cidadãos humildes, suspeitos de pequenos crimes e entrevistados por intimidação. A polícia chega atirando – e a mídia filmando.

            A pergunta que paira no ar é: quem fiscaliza quem nos meios de comunicação? Como se pode garantir a liberdade de informação e evitar que os meios de comunicação cometam seus abusos?

             Pelo que se viu... aqui se deixa uma pergunta que ficará por um bom tempo sem resposta.

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